O Retorno dos Títulos
O São Paulo entrou com tudo na temporada de 1970. Com os novos reforços, a torcida percebeu que o jejum de 13 longos anos sem títulos estava prestes a acabar. Em 25 de janeiro, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo estava sendo inaugurado. O jogo foi contra o Porto, em um empate por 1 a 1.
Zezé Moreira, irmão de Aymoré Moreira, campeão do mundo em 62, chegou para comandar a equipe paulista. A diretoria seguiu contratando e trouxe Pablo Forlán, pai de Diego Forlán, craque da Copa de 2010. Ele era muito raçudo, e tinha a marcação e o cruzamento como principais características. O time começou a impor muito respeito, coisa que não acontecia há tempos. A estrela solitária que era Roberto Dias finalmente ganhou a chance de ser campeão. Paraná, Terto e Toninho formavam um trio de ataque de altíssimo nível. Ninguém mais conseguia parar o São Paulo, até que chegou a decisão. E o Guarani não foi páreo para o São Paulo: 2 a 1. Finalmente o torcedor Tricolor poderia soltar o grito de campeão.
Então veio a disputa da Taça Roberto Gomes Pedrosa. Mas a equipe não conseguiu ir bem no campeonato e acabou eliminada. A diretoria, então, foi ás compras, e trouxe o maior meia da história do Uruguai.
Pedro Rocha, El Verdugo, era o grande craque do Peñarol e um dos melhores jogadores do mundo. Pelé o considera um dos cinco melhores jogadores de todos os tempos. Ele era tri campeão da libertadores e bi campeão mundial. Foi destaque da Celeste Olímpica nas Copas de 66 e 74. Porém, a adaptação dele ao elenco não foi fácil: ele era solitário e ficava mais junto ao seu compatriota Pablo Forlán. Muitos diziam que ele tomaria o lugar de Gérson, que era brincalhão e de decisões fortes. No entanto, os dois acabariam fazendo história lado a lado pelo Tricolor.
Não havia melhor maneira de iniciar a década de 70. O Morumbi estava pronto e reforços chegavam sem parar. No entanto, uma baixa inesperada desfalcou e muito o São Paulo.
Roberto Dias sofria de aterosclerose, o que leva a formação de placas nas veias do coração. Ele sofreu um infarto. Não morreu, mas ele guardava muitas mágoas com o São Paulo, que serão contadas no capítulo Roberto Dias, Herói do Tempo Sem Títulos. Por isso, a diretoria resolveu conceder a ele passe livre, algo raro na época. Ele seguiu para o futebol mexicano. Arlindo se tornou titular em seu lugar. No meio campo, conseguiu-se encaixar Gérson e Pedro Rocha juntos. O Palmeiras, de Leão, Ademir da Guia, Dudu e César Maluco aparecia como grande rival. E a década de 70 mostrou que a briga seria particular. A disputa seguiu acirrada até a última rodada do primeiro turno do Paulistão. O São Paulo enfrentaria o Guarani fora de casa, enquanto o Palmeiras teria o rival Corinthians no Morumbi. Logo de cara, o Palmeiras fez 2 a 0, com dois tentos de Maluco. Gérson foi expulso. Tudo parecia conspirar contra o Tricolor. Porém, Toninho Guerreira marcou o seu tento e ainda viu o Corinthians virar o jogo para 4 a 3, em um jogaço. No segundo turno, o São Paulo soube administrar a vantagem. A última rodada marcava São Paulo e Palmeiras no Morumbi. A cidade parou para ver o melhor jogo do ano. O público ultrapassava 110 mil espectadores. Sem favoritos, com ambos times recheados de jogadores de muita qualidade, qualquer coisa poderia acontecer. Logo aos cinco minutos, Paraná avançou pela ponta e cruzou. A bola sobrou para Toninho Guerreiro, que fuzilou o goleiro Leão. 1 a 0. Superior ao Palmeiras, o Tricolor só não ampliou por que esse era o dia de Leão.
Porém, na etapa complementar o São Paulo recuou. Até que aos 22 minutos aconteceu o lance mais polêmico da partida. O lateral direito palmeirense Eurico avançou pela direita e cruzou. Leivinha percebeu que não chegaria a tempo e deu um soco na bola, marcando o gol. O juiz, corretamente, anulou o gol, para desespero dos palmeirenses. O Palmeiras se perdeu em campo e Eurico e Fedato foram expulsos após violentas entradas. Recado: São Paulo campeão Paulista. E a conquista marcou o nome de Toninho Guerreiro na história. Ele foi campeão Paulista em 67, 68 e 69 pelo Santos e em 70 e 71 pelo São Paulo. Penta campeão consecutivo. Título que nem Pelé detém.
Em 1971, já não existia mais o Robertão. A CBF criara o Campeonato Brasileiro, o que foi um alívio para o São Paulo, que jamais fez uma campanha decente naquela competição. Mas o São Paulo tomou um susto, afinal, o Grêmio aplicou três a zero na primeira rodada e o Santos fez três a um na segunda. E em 19 jogos disputados, foram seis vitórias, sete empates e seis derrotas, que por sorte valeu a última vaga do grupo B para a etapa seguinte da competição. Uma derrota por 1 a 0 para a Portuguesa custou o emprego de Osvaldo Brandão. Quem veio substituí-lo interinamente foi Jose Poy.
Na segunda etapa, os 12 times foram divididos em três grupos de quatro cada um, no qual o campeão de cada grupo disputaria o triangular final. Antes, porém, houve uma substituição: Jurandir, que foi ao lado de Roberto Dias e Paraná um dos poucos jogadores não ruins dos anos 60, saiu. Em seu lugar entrou Samuel. E o time cresceu. Derrotou o Corinthians por 1 a 0, venceu o Cruzeiro em pleno Mineirão por 2 a 0 e o América/RJ perdeu por 1 a 0. Nos jogos da volta, o Tricolor segurou três empates, e com nove pontos (naquela época vitória valia dois pontos) se classificou para o triangular final com Botafogo e Atlético MG. O sistema era todos contra todos em turno único e o time que somasse mais pontos seria declarado o primeiro campeão brasileiro da história. Na primeira rodada, Botafogo ficou de folga e viu o Atlético MG vencer o São Paulo por 1 a 0 no Mineirão. Na rodada seguinte, o São Paulo precisava da vitória e torcer para o Botafogo perder para o Atlético MG. Pedro Rocha, que estava machucado e não jogou o primeiro jogo, já estava recuperado para o segundo. E o São Paulo, dentro de sua casa, goleou por 4 a 1. Era esperar para ver.
Mas o time mineiro não deu chances e Dario fez o único gol da partida. Mas o São Paulo tinha muito o que comemorar, afinal, pela primeira vez, estava na Libertadores da América.
Em 1972, o São Paulo começou disputando o torneio continental. Estava no grupo com Atlético MG, Olímpia e Cerro Porteño. E Alfredo Ramos substituiu Jose Poy, que havia saído após o vice campeonato. Contra o Atlético MG foi o primeiro jogo do São Paulo na sua história na Libertadores. Empatou por 2 a 2 no Mineirão. Na rodada seguinte, derrotouo Olímpia por 3 a 1. Depois, o Cerro sentiu o poder Tricolor e perdeu por 4 a 0. Na volta, teve uma vitória (Olímpia, 1 a 0), um empate (Atlético MG, 0 a 0) e uma derrota (Cerro Porteño, 3 a 2). Na segunda fase, caiu no grupo 2, junto com Independiente e Barcelona (EQU). Empatou por 0 a 0 e 1 a 1 com o Barcelona, e contra o Independiente venceu por 1 a 0. Era uma ótima situação, pois com um empate já seria finalista da Libertadores em sua primeira participação. Mas o Independiente fez 2 a 0 e foi á final. Se sagraria campeão contra o Universitário.
Como o calendário brasileiro ainda tinha sérios problemas de organização, a equipe disputou, simultaneamente á Libertadores, o Paulistão. Mesmo abatido pelo revés na Libertadores, a equipe conseguiu manter o ritmo e chegou á rodada final com chances de ser campeão, assim como Palmeiras, rival na rodada final. Mas o empate por 0 a 0 deu o título ao Palmeiras.
A equipe não suportou dois golpes consecutivos e foi apenas um coadjuvante no nacional. Foi eliminado logo de cara.
Em 1973, chegou a grande novidade: Telê Santana. Ele havia sido campeão brasileiro em 71 pelo Atlético MG chegou para tentar botar ordem na casa. Toninho Guerreiro já não era mais intocável devido a desavenças com a diretoria. Foi vendido e Piau chegou em seu lugar. Apesar da campanha razoavelmente boa no primeiro turno do paulistão, com cinco vitórias, quatro empates e duas derrotas, ele foi demitido antes do começo do segundo turno. Poy foi chamado de novo, mas o efeito foi pior, e a equipe terminou em décimo lugar entre doze competidores. Mas o time se reencontrou no Brasileirão, apesar do início ruim. Mirandinha, ídolo corintiano, chegou para ocupar a vaga deixada por Guerreiro. No meio campo, um jogador de pouca técnica, mas muito raçudo, que não desiste nunca: o volante Chicão, contratado junto à Ponte Preta, e outro goleiro, que viria a ser um dos maiores do Brasil e, ao lado de Rogério Ceni e Zetti, o maior da história do São Paulo: o catimbeiro Waldir Peres.
A reação foi incrível. O São Paulo se garantiu no quadrangular final, ao lado de Internacional, Cruzeiro e Palmeiras. A equipe goleou o Inter (4 a 1), empatou com o Palmeiras (0 a 0) e perdeu para o Cruzeiro (1 a 0). Se classificou para a final contra o Palmeiras.
O Palmeiras tinha a vantagem do empate por ter feito melhor campanha. Empatou por 0 a 0, e o Palmeiras conquistava seu segundo título brasileiro.
Como o calendário era muito confuso e os campeonatos, muito inchados, o Brasileirão de 74 começou exatos 20 dias após a decisão entre São Paulo e Palmeiras. E a equipe logo estrearia na Libertadores. Poy deu total prioridade ao torneio continental e pôs os reservas para representar a equipe no Brasileirão. Entre os reservas, dois jogadores começaram a se destacar: Muricy Ramalho, que por sua cabeleira era chamado de rebelde, e seu jeito fácil de jogar fez com que logo começassem a compara-lo com Pelé. O outro era Sérgio Bernardino, o Serginho Chulapa, que se tornaria o maior artilheiro da história do clube. Chulapa foi lançado ao time titular por Telê Santana e tinha passado uma temporada no Marília, ganhando experiência.
Na Libertadores, a campanha foi maravilhosa: quatro vitórias e dois empates em seis jogos. O Palmeiras, que tinha caído no mesmo grupo, não foi páreo e perdeu os dois jogos, sendo eliminado, o que se tornaria freqüente quando o assunto é Libertadores. Na segunda etapa, o Tricolor caiu em um grupo com Defensor Lima e Milionários. Como era ano de Copa, os jogos só aconteceriam no segundo semestre.
Voltando a atenção para o torneio Nacional, a equipe se classificou para a segunda fase, mas o Inter deu o troco pela goleada do ano anterior e eliminou o São Paulo com um placar de 1 a 0.
Então veio o Paulistão. Serginho novamente perdeu sua vaga para Mirandinha. A equipe teve cinco vitórias, dois empates e uma derrota antes da volta da Libertadores, onde o Tricolor mostrou superioridade em seu grupo.
O Milionários até teve sorte no primeiro jogo (0 a 0) mas não foi páreo para o Tricolor no Morumbi e perdeu por 4 a 0. Já o Defensor, foi um pouco pior: derrotas por 1 a 0 e 4 a 0. E o Tricolor chegava á sua primeira final da Libertadores, que acabaria sendo vencida pelo Independiente (ARG) após uma vitória por 2 a 1, uma derrota por 2 a 0 e um jogo-desempate que terminou em 1 a 0. Zé Carlos até teve a chance de empatar o jogo-desempate em uma cobrança de pênalti, mas o goleiro Gay pegou.
O Tricolor então, agora só tinha chances no Paulistão. Foi até a última rodada sem derrotas, mas o Palmeiras acabaria um ponto á frente, iria para a final contra o Corinthians e seria campeão. O curioso é que na última rodada o Corinthians iria enfrentar o Palmeiras, e mandou o time reserva em campo, pois achava que o São Paulo seria um adversário mais duro na final, e queria facilitar as coisas para o Alviverde, time que considerava “menos bom”. E os Alvinegros não viam um título em suas mãos há vinte anos.
Mas o São Paulo teve uma perda terrível. O goleador Mirandinha havia quebrado a perna em um jogo contra o América/SP e só voltaria em 77, mas obviamente não seria mais o mesmo. Serginho começava a cravar seu nome na história do São Paulo.
A invencibilidade começada em 74 continuou no Paulistão de 75. A equipe ganhou o primeiro turno, e já estava na final. Se ganhasse o segundo turno, seria declarada campeã antecipadamente.
Só que o regulamento era outro, agora. E bem estranho. Agora, os grupos foram divididos em dois grupos de dez, com os três primeiros se classificando na fase decisiva, que foi ganha pela Portuguesa, com maior saldo de gols. O São Paulo, claro, entrou com um processo na FPF, que acabou reconhecendo que deveria haver uma final entre Portuguesa e São Paulo. No primeiro jogo foi 1 a 0 para o São Paulo. No segundo, 1 a 0 para a Portuguesa, em um jogo no qual Muricy foi expulso injustamente logo aos 30 minutos de jogo, e antes da prorrogação começar, o presidente Tricolor Henri Aidar entrou em campo e falou para o juiz que Ademir entraria no lugar de Muricy, expulso. A intenção era retardar o início da partida, para que os jogadores são paulinos agüentassem melhor a pressão. A estratégia deu certo, e a prorrogação, que começou quase uma hora depois, terminou em 0 a 0. A decisão iria para os pênaltis.
Nos pênaltis, brilhou o jogador mais catimbeiro da história do São Paulo. Um dos mais catimbeiros da história do Brasil. Waldir Peres, a cada cobrança dos jogadores da Portuguesa, falava com eles, gesticulava, mudava a bola de lugar. Pegou três pênaltis, ao passo que o São Paulo converteu outros três. O monstruoso Waldir Peres deu ao São Paulo mais um caneco para aquele time guerreiro, raçudo e aguerrido para ficar com o título.
Veio o Brasileirão. O São Paulo entrou firme na disputa e se classificou com facilidade em seu grupo. Na segunda etapa, a campanha razoável serviu. Mas na terceira não teve jeito, e a equipe viu Santa Cruz e Internacional avançarem.
Sem dúvida, o ano de 76 foi o pior do São Paulo na década. Os mesmos jogadores que haviam ganho o título Paulista de 75 fizeram uma campanha razoável no torneio de 76, que acabou na sétima colocação. Já no Brasileirão, nem vou perder tempo. A colocação geral já diz tudo: 28º lugar.
Jose Poy acabou substituído interinamente por Mário Juliato, mas depois chegaria um dos grandes treinadores da história do futebol brasileiro. Rubens Minelli havia sido bicampeão Brasileiro pelo Internacional, em 75 e 76. Logo em seguida, Zé Sérgio seria revelado. E o curioso é que foi levado ao São Paulo pelo seu primo, ninguém menos que o maior jogador da história do Corinthians, o Rivellino. O Tricolor terminou na terceira colocação do Paulistão e viu o Corinthians por um ponto final a uma fila de 23 anos, que depois criou uma grande polêmica em torno de Ruy Rey, astro da Ponte Preta, vice campeã Paulista.
Terto, Serginho e Zé Sérgio formavam um trio de ataque temível. Apesar disso, o São Paulo não era muito cotado ao título, que estava mais para Internacional (bi campeão e comandado por Falcão), Atlético MG (de Toninho Cerezo, que assim como Falcão, faria história no São Paulo anos mais tarde), Fluminense (de Rivellino, primo de Zé Sérgio) e Flamengo (de Zico, maior meia da história). Mesmo depois de trazer Dario Pereyra, capitão da Celeste Olímpica, ninguém se lembrou do São Paulo. Nem mesmo depois de golear o Inter por 4 a 1.
Na terceira fase, os 24 times restantes foram divididos em quatro grupos de seis, e apenas o campeão de cada chave iria á semi final. O São Paulo venceu o seu, mas perdeu sua maior força ofensiva. O São Paulo enfrentava o Botafogo/SP, que vencia por 1 a 0. Serginho fez um gol, mas o bandeirinha anulou, marcando impedimento. Serginho, louco de raiva, foi até o auxiliar e aplicou-lhe um chute na canela. Foi expulso e ainda aguardaria julgamento do STJD.
Na semifinal, a maior surpresa do campeonato: o Operário (MS). A equipe contava com Manga, que chegou a defender a seleção em Copas do Mundo. No primeiro jogo, 3 a 0 para o São Paulo. No segundo, derrota por 1 a 0 e um lugar na decisão, contra o Atlético MG. E o que todos temiam aconteceu: Serginho foi suspenso por 14 meses. Pelo menos, o Atlético MG também perdeu seu goleador, Reinaldo, expulso por agredir um jogador do Fast (AM).
Foi um jogo memorável. A confiança no título era total. E o Atlético MG até já vendia camisas com duas estrelas douradas: uma pelo título Brasileiro de 71, e outra pelo título de 77. A própria imprensa especializada dizia que o Atlético iria estraçalhar o São Paulo. Os placares chegavam a cinco a zero.
Começou, então, uma guerra nos bastidores. O Atlético ameaçava entrar no tapetão para conseguir a liberação de Reinaldo. E o Tricolor respondia na mesma moeda. Mas eis que surge um experiente e grande técnico. No dia do jogo, Minelli ligou para Serginho e mandou-o se arrumar e seguir para Belo Horizonte. Desembarcou no aeroporto e seguiu para o Mineirão, onde, no vestiário, começou a por o uniforme, como se fosse jogar. A notícia trouxe pânico aos jogadores do Atlético MG, que subiram a campo intimidados.
Durante o jogo inteiro, as melhores chances foram do São Paulo. Mas o placar não se mexeu e a decisão seria nos pênaltis. As coisas pareciam conspirar contra o São Paulo.
Getúlio errou a primeira cobrança e Ziza pos o Galo na frente. Peres empatou, mas Alves fez 2 a 1. Chicão parou nas mãos de João Leite. O Atlético MG era quase bi campeão, afinal, se Joãozinho Paulista marcasse o seu, ficaria 3 a 1 e seria muito difícil uma reação. Mas Waldir Peres decidiu equilibrar as coisas para o Tricolor Paulista.
Quando Joãozinho ajeitou a bola, Waldir saiu do gol, foi até a bola, mexeu nela, depois falou com o jogador mineiro. Pressionado, mandou a bola por cima. Antenor empatou a disputa. A quarta cobrança seria feita por Cerezo, que quinze anos depois ganharia o Mundial pelo São Paulo. O catimbeiro goleiro são paulino novamente falou, gesticulou, pressionou e viu Cerezo mandar a bola por cima do gol. Desespero no Mineirão, mesmo por que na seqüência Bezerra fez 3 a 2.
Agora, vou apresentar-lhes uma frase feita por Luis Augusto Simon e Marcelo Prado, no livro Nascido Para Vencer, no qual estou me baseando.
“Vejam só a situação. O Galo havia aberto vantagem no começo e agora precisava marcar para não ver um título, que parecia certo, escapar pelas mãos. O autor seria o zagueiro Márcio, o mesmo que, na prorrogação, havia evitado o gol de cabeça de Chicão. E lá foi Waldir Peres, que, desta vez, exagerou e deu um tapinha na bunda do defensor atleticano. Nem o mais otimista torcedor são paulino poderia prever a mesma cena por três vezes seguidas. Cobrança feita e a bola foi por cima do gol. São Paulo, contra tudo e contra todos, conquistava o Campeonato Brasileiro pela primeira vez. E, além de ter garantido vaga na Taça Libertadores, definitivamente passava a ser respeitado no cenário nacional.”
Uma semana depois do título, o São Paulo estrearia na Libertadores, no grupo com Atlético MG, Unión Española e Palestino. Mas a equipe, com uma vitória, três empates e duas derrotas, acabou eliminada. De 1978, a única coisa que vale a pena lembrar é um jogaço com o Palmeiras, na semi final do Paulistão. E a CBF continuava com sérios problemas de organização, tanto que o Paulistão começou em agosto de 78 e foi finalizado em junho de 79.
O regulamento dizia que em caso de empate, haveria prorrogação. O Palmeiras tinha a vantagem do empate nessa prorrogação, e 112 mil torcedores compareceram ao Morumbi, a maioria palmeirenses, já que na época eles tinham uma torcida maior.
Quem esperava um grande jogo frustrou-se no primeiro tempo, com ambos times jogando defensivamente. No segundo tempo, ambas se soltaram e se arriscaram no ataque, mas o placar não se mexeu. Waldir Peres e Gilmar brilhavam em suas metas.
Muricy entrou na prorrogação para ajudar o ataque, mas Gilmar ia se consagrando. Eram 13 minutos do segundo tempo da prorrogação e a torcida Alviverde já cantava a música “Ta Chegando a Hora” para provocar os são paulinos. Serginho, matador da equipe, estava sendo muito bem marcado pelo zagueiro Beto Fuscão e só apareceu livre uma vez no jogo todo.
Getúlio recebeu passe de Chicão e cruzou de primeira na área. Serginho finalmente havia conseguido escapar daquele feroz marcador Alviverde, e, de ombro, mandou no ângulo de Gilmar, que desta vez, não conseguiu defender.
Festa no Morumbi. O São Paulo foi á final com o Santos, que ficaria com o título. Mas jamais um torcedor são paulino ou palmeirense se esqueceu do que aconteceu nessa incrível semi final.
Agora, um ponto muito curioso da história. Como o Paulistão havia sido muito mal organizado, a temporada seguinte começaria três dias depois do Alvinegro Praiano levar o caneco. E o que é pior, os times teriam que escolher entre o Estadual e o Brasileirão. O São Paulo escolheu o Estadual, mas não fez boa campanha, sendo eliminado na segunda fase. E um desfalque de peso para o Tricolor: Minelli recebeu uma proposta de um time árabe e deixou o clube, que foi interinamente treinado por Mário Juliato.
Em 1980, Carlos Alberto Silva foi contratado. O time demorou para engrenar na temporada. Muricy e Chicão, ídolos da década de 70, deixaram o time. Com isso, o time ficou apenas no nono lugar no Brasileirão.
Veio então o Paulistão, última chance de título na temporada. O São Paulo começou mal, e no primeiro turno ficou na nona colocação, e viu o Santos vencer a primeira parte do Paulistão.
Veio a segunda etapa. Antes, Carlos promoveu mudanças na defesa.
Dario Pereyra, contratado há três anos, não conseguia se firmar como volante e foi recuado para a quarta-zaga. A seu lado, Oscar, um verdadeiro mestre que chegou a ser indicado pela FIFA como um dos astros de uma Copa do Mundo.
Era um par perfeito. De um lado, Dario era raça pura, um guerreiro, que não desistia nunca. Do outro, Oscar, um beque clássico de toque refinado e bom passe.
Arrumada a defesa, Carlos Alberto Silva começou a apostar na força que a equipe tinha no ataque, com Serginho, Zé Sérgio e Renato. E o time deslanchou. Goleou o Palmeiras por 4 a 0 e até o fim do segundo turno sofreu só mais uma derrota, para o Guarani. Nas semi finais, uma surpresa: a Inter de Limeira.
No primeiro jogo, a Inter fez 2 a 1 em pleno Morumbi. No tudo ou nada, 3 a 1 para o São Paulo na casa do adversário.
A final do segundo turno foi feita contra a Ponte Preta. O São Paulo, que jogava por dois resultados iguais, fez 2 a 1 no primeiro jogo, e no segundo se segurou e perdeu por 1 a 0. O São Paulo foi campeão do segundo turno e decidiria o título com o Santos, campeão do primeiro turno. Serginho, com um gol em cada jogo, deu o título ao São Paulo.